O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou, nesta sexta-feira (7), 12.297 lotes de terra da reforma agrária para famĂlias de 138 assentamentos rurais de 24 estados do paĂs.Â
A cerimĂ´nia ocorreu no Complexo AriadnĂłpolis, em Campo do Meio (MG), onde está localizado o Quilombo Campo Grande, assentamento de ex-funcionários de uma usina de açúcar que entrou em falĂŞncia nos anos 1990 e deixou dĂvidas com a UniĂŁo.
Ao longo dos anos, os agricultores familiares do local foram alvo de 11 operações de reintegração de posse. Cada uma das mais de 450 famĂlias integrantes do quilombo tem, em mĂ©dia, 8 hectares de terra e, juntas, produzem e comercializam mais de 160 tipos de alimentos, como mandioca, feijĂŁo, hortaliças, milho e cafĂ©.
O presidente Lula defendeu os programas de reforma agrária destacando que as grandes propriedades rurais (783 mil delas) correspondem a 658 milhões de hectares de terra do paĂs, enquanto as 5,6 milhões de pequenas propriedades que produzem alimentos que vĂŁo Ă mesa da população somam apenas 116 milhões de hectares.
“É isso que está errado nesse paĂs. Porque as propriedades que detĂ©m atĂ© 100 hectares, elas representam praticamente 70% a 80% de todo o alimento que nĂłs consumimos no Brasil, de leite, de carne de boi, de carne de porco, de tudo. E sĂŁo um percentual muito pequeno [de terra]. EntĂŁo, Ă© por isso que a luta pela reforma agrária ganha importância, porque Ă© preciso que se faça justiça nesse paĂs.”
O presidente lembrou que, no inĂcio desse terceiro mandato, pediu um levantamento das terras pĂşblicas disponĂveis e das terras improdutivas para realizar reforma agrária, para “nĂŁo precisar haver uma guerra no campo”.Â
Ele reafirmou hoje que esse levantamento já foi feito e que o Ministério da Gestão precisa começar a disponibilizar as terras.
“Não tem porque o Estado ter terra pública. Quem é o Estado? É o povo, e a terra tem que estar na mão do povo para que ele possa produzir”, disse.
“Se a gente levou dois anos para colocar essa prateleira de pé, agora é preciso fazer com que essa prateleira comece a disponibilizar as terras para que a gente possa assentar, não apenas quem já está em acampamento, mas a gente também fazer com que outras pessoas que queiram tenham o direito de trabalhar.”
Interesse social
Durante o evento, Lula assinou sete decretos de desapropriação de áreas por interesse social e também anunciou R$ 1,6 bilhão para Crédito Instalação em 2025. Os recursos podem ser aplicados em habitação, apoio inicial e fomento aos jovens e mulheres na reforma agrária.
Os decretos envolvem trĂŞs imĂłveis no Complexo AriadnĂłpolis: as fazendas AriadnĂłpolis (3.182 hectares), Mata Caxambu (248 hectares) e Potreiro (204 hectares). Outras fazendas tambĂ©m incluĂdas sĂŁo: Santa LĂşcia (5.694 hectares), localizada no municĂpio de Pau-d’Arco (PA); Crixás (3.103 hectares), em Formosa (GO); SĂŁo Paulo (749 hectares), em Barbosa Ferraz (PR); e Fazenda Cesa – Horto Florestal (125 hectares), em Cruz Alta (RS). A medida tem potencial de atender cerca de 800 famĂlias.
O governo criou ainda cinco projetos de assentamento envolvendo terras adquiridas para solução de conflitos e pagas com o orçamento da UniĂŁo de 2024, no total de R$ 383 milhões. Eles estĂŁo localizados nos municĂpios baianos de Alcobaça e Teixeira de Freitas, em Goiana (PE) e na cidade mineira de Pirapora, para assentar 375 famĂlias.
TambĂ©m foram criados quatro assentamentos em terras pĂşblicas, com transferĂŞncia de áreas da Secretaria do PatrimĂ´nio da UniĂŁo (SPU) para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), nos municĂpios de Castro (PR), MuquĂ©m de SĂŁo Francisco (BA), Primavera do Leste (MT) e Marabá (PA). Eles devem garantir o atendimento a 153 famĂlias no total.
As entregas e anĂşncios de hoje fazem parte do programa Terra da Gente e incluem, ainda, a entrega de tĂtulos de domĂnio, contratos de fomento de recuperação ambiental, a renegociação de dĂvidas por meio do Desenrola Rural, alĂ©m de entregas do Programa Nacional de CrĂ©dito Fundiário (PNCF).
Também foi assinada portaria dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e da Fazenda que estabelece um limite de R$ 700 milhões para adjudicações a serem realizadas em 2025. Ou seja, é o valor máximo, proveniente de grandes devedores, que a União poderá reverter para a reforma agrária, no âmbito do Terra da Gente.