A Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) afirma que um documento encontrado na sala do ex-presidente Jair Bolsonaro, na sede do Partido Liberal (PL), consiste no discurso que o ex-presidente faria logo apĂłs o golpe de Estado tramado para impedir a transição de governo. O mesmo documento foi encontrado no celular do ex-ajudante de Ordens da PresidĂȘncia da RepĂșblica tenente-coronel Mauro Cid.Â
âO discurso encontrado na sala de Jair Messias Bolsonaro reforça o domĂnio que este possuĂa sobre as açÔes da organização criminosa, especialmente sobre qual seria o desfecho dos planos traçados â a sua permanĂȘncia autoritĂĄria no poder, mediante o uso da forçaâ, justifica o procurador-geral, Paulo Gonet.
O texto do suposto discurso pĂłs-golpe justifica o decreto de Estado de SĂtio e o da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que seriam editados por Bolsonaro. O documento, atribuĂdo pela PGR ao ex-presidente, defende que algumas decisĂ”es judiciais devem ser consideradas ilegĂtimas.
âDevemos considerar que a legalidade nem sempre Ă© suficiente: por vezes a norma jurĂdica ou a decisĂŁo judicial sĂŁo legais, mas ilegĂtimas por se revelarem injustas na prĂĄtica. Isso ocorre, quase sempre, em razĂŁo da falta de constitucionalidade, notadamente pela ausĂȘncia de zelo Ă moralidade institucional na conformação com o ato praticadoâ, diz o texto encontrado na sala de Bolsonaro. Â
Na noite desta terça-feira (18), a PGR denunciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democråtico de Direito e organização criminosa. A acusação também envolve outros militares, entre eles, o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Braga Netto e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Discurso
No discurso de quatro pĂĄginas, o ex-presidente argumenta que o âPrincĂpio da Moralidade Institucionalâ teria sido violado por decisĂ”es de tribunais superiores. O texto tambĂ©m defende que o ministro Alexandre de Moraes nĂŁo poderia presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alĂ©m de criticar decisĂ”es do TSE.
âTodas estas supostas normas e decisĂ”es sĂŁo ilegĂtimas, ainda que sejam aparentemente legais e/ou supostamente constitucionaisâ, diz o documento, acrescentando que tais decisĂ”es, como a que rejeitou ação do PL contra o resultado das urnas, âcolocam em evidĂȘncia a necessidade de restauração da segurança jurĂdica e de defesa Ă s liberdades em nosso paĂsâ.Â
O suposto discurso pĂłs-golpe cita decisĂ”es do STF e conclui pela necessidade de um estado de sĂtio. âDiante de todo o exposto e para assegurar a necessĂĄria restauração do Estado DemocrĂĄtico de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposiçÔes expressas da Constituição Federal de 1988, declaro Estado de SĂtio; e, como ato contĂnuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordemâ.
Operação 142
Outro documento apreendido na sede do PL, na mesa de assessor do general Walter Braga Netto, também denunciado pela PGR por tentativa de golpe de Estado, revela medidas que a suposta organização criminosa tomaria para consolidar o poder.
Com o tĂtulo de Operação 142, em referĂȘncia ao artigo 142 da Constituição, que disciplina o uso das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem, o documento previa uma sĂ©rie de medidas para o golpe de Estado.
âO plano tambĂ©m previa açÔes claramente voltadas Ă restrição de exercĂcio das instituiçÔes democrĂĄticas, como âAnulação das eleiçÔesâ, âProrrogação dos mandatosâ, âSubstituição de todo TSEâ e âPreparação de novas eleiçÔesââ, sustenta a PGR.
No tĂłpico âLinhas de esforçoâ, o arquivo propunha açÔes de interrupção do processo de transição de governo; mobilização de juristas e formadores de opiniĂŁo; e enquadramento jurĂdico do decreto 142.
Segundo Gonet, o documento deixa âevidente o escopo do grupo de depor o governo legitimamente eleito e permanecer no poder de forma autoritĂĄriaâ.Â
âEsse objetivo chegou a ser declarado de forma expressa ao final do documento: âLula nĂŁo sobe a rampaââ, acrescentou o PGR.
Defesas
Em nota, a defesa do ex-presidente informou ter ficado âestarrecida e indignada com a denĂșnciaâ apresentada nesta terça-feira. Assinada pelo advogado Paulo Cunha Bueno, a nota afirma que Bolsonaro âjamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado DemocrĂĄtico de Direito ou as instituiçÔes que o pavimentamâ.
A defesa de Braga Netto afirmou que a denĂșncia Ă© âfantasiosaâ e ânĂŁo apaga a sua histĂłria ilibada de mais de 40 anos de serviços ao ExĂ©rcito brasileiroâ.Â
âO general Braga Betto estĂĄ preso hĂĄ mais de 60 dias e ainda nĂŁo teve amplo acesso aos autos, encontra-se preso em razĂŁo de uma delação premiada que nĂŁo lhe foi permitido conhecer e contraditarâ, diz a defesa.Â
Nesta quarta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes levantou o sigilo da delação de Mauro Cid.Â
Os advogados do general, JosĂ© Luis Oliveira Lima e Rodrigo DallâAcqua, dizem ainda confiar que Braga Netto serĂĄ inocentado. âA defesa confia na Corte, que o STF irĂĄ colocar essa malfadada investigação nos trilhosâ, afirmaram.Â
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