S.O.S! Terra Chamando! – Ep2 – Antropoceno é o Nome da Doença?
🎵 Sobe som barulho hospital/ marcador de sinais vitais 🎵
Terra (Kailane Vinício): Antropoceno? Eu já ouvi falar em ‘’lixoceno’’, é a mesma coisa? Que doença é essa, Dr?
Dr. Cruz (Pablo Aguilar): Terra, tente se acalmar, descansar! O mais importante agora é estabilizar os seus sinais vitais, melhorar a sua oxigenação.
Terra: Dr, quero sair daqui. Sair por aí!
Dr. Cruz: Serei honesto, Terra. A sua situação é grave. Muito grave! Os exames mostram desequilíbrios importantes. Essa desarmonia está te levando ao colapso. Agora, é descobrir a causa!
Terra: Mas eu sempre fui cheia de vida, saudável. Estou com muita, muita falta de ar! Parece que tem fumaça pra todo lado.
Dr. Cruz: Respira, Terra! Vamos te dar todo o suporte, tá bem?
Terra: O que eu mais quero é respirar em paz! Obrigada, Dr. Cruz. Muito tempo que ninguém cuida de mim assim!
Dr. Cruz: Eu sei! Pra senhora entender, o que mais me chama a atenção agora é o que a gente chama de acidose – que é o excesso de ácido no seu sangue. Isso quer dizer que tem muito gás carbônico no seu organismo.
Terra: Ãhn!
Dr. Cruz: Se eu pudesse te comparar a um planeta, Terra, diria que está poluída, em franco aquecimento… aquecimento global! Não há sistema que resista. Um clássico do Antropoceno!
🎵Trilha 🎵
Adrielen Alves: É! A situação não está nada fácil pra Terra. Ela deu entrada no hospital já em colapso.
Terra: Caos, colapso, é tudo junto. É um calor sem fim, coração quase parando, uma falta de ar, enjoo, vista cansada. Aff!
Adrielen: O Dr. Cruz conseguiu reverter o pior (marcha fúnebre) e hoje se dedica a entender melhor os sintomas e a causa do mal vivido pela Terra. Apesar de, ‘’eu disse apesar de’’, todos os indícios levarem ao….
🎵 Sobe som 🎵
Adrielen: Antropoceno – também chamado de época do colapso ambiental. A época da história da Terra que tem a digital humana, para o bem e para o mal. Época que a humanidade está deixando sua maior pegada ecológica. Eu sou Adrielen Alves, jornalista de ciência. Este é o episódio dois da primeira temporada do podcast: S.O.S! Terra Chamando! Uma parceria da Empresa Brasil de Comunicação e da Fundação Oswaldo Cruz.
🎵Trilha 🎵
Adrielen: A palavra ainda não é familiar no nosso vocabulário: Antropoceno! Antrooopoceno! Antropoceeno (2x)? Tem ênfase na penúltima sílaba? É uma paroxítona. Isso a gente sabe!
Terra: Pelo nome difícil de falar, eu tô achando que isso é uma doença rara, viu??!?! Sei lá! Ai, saudade de quando meus problemas eram tipo glaciação, resfriamento, ou ‘’holoceeeno’’!
Adrielen: A Terra, interpretada por Kailani Vinício, não está tendo tempo nem de assimilar todos os eventos que estão lhe afetando. “É treta em cima de treta”! “É problema chegando de galera” e em velocidade ‘’express’’.
Dr. Cruz: Doutores! Sobre o caso da paciente do leito 2025, a senhora Terra.. temos órgãos vitais impactados: pulmão, coração, intestino e todo o sistema cardiovascular. Terra segue com a pressão instável!
Adrielen: Dr. Cruz, interpretado por Pablo Aguilar, se adiantou em comparar a Terra, personagem principal do nosso podcast, a um planeta, para explicar à sua paciente a gravidade do caso. Da radionovela para a vida…. A Terra diversa, rica em vida nos mares, em terra firme, no ar, abundante em água e oxigênio…A nossa casa está adoecendo diante dos olhos e pelas mãos da humanidade. Estamos falando da época de aquecimento dos mares, dos termômetros nas alturas, das secas históricas, das cheias avassaladoras, da poluição do ar, dos incêndios sistemáticos, do efeito estufa, da produção e consumo exagerados, do desperdício, da extinção de espécies!
Terra: Socorro!!!
Adrielen: Estamos agora, sim, falando da ‘’grande aceleração’’, do Antropoceno!
🎵Trilha 🎵
Adrielen: Antropoceno, do grego antropos, que significa humano, e kainos, novo, recente. O termo começou a ser usado na década de 1980 pelo biólogo norte-americano Eugene Stoermer. Só nos anos 2000 é que foi popularizado pelo químico holandês, Paul Jozef Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel, em 1995. De lá pra cá, nas últimas duas décadas, ganhou força nas discussões científicas, acadêmicas, espaço em jornais e manchetes e, timidamente, tem chegado às ruas.
🎵 Povo fala 🎵
Adrielen: Eu disse, timidamente! Na prática e em bom português, significa as mudanças biológicas, químicas e físicas irreversíveis feitas no planeta a partir da ação humana.
Dr. Cruz: Ai ai ai! Vamos precisar de uma junta médica especializada. Será um grande desafio confirmar que a Terra enfrenta o controverso Antropoceno.
Adrielen: Mas por que controverso, Dr. Cruz? Você deve estar se perguntando!! Não estamos mesmo vendo todas essas intempéries no planeta – enchentes no Rio Grande do Sul, secas na Amazônia, o Pantanal em chamas? Por que não podemos cravar este diagnóstico para a Terra? Bora pro papo reto. Para a Geologia, ciência que estuda a composição, estrutura e evolução da Terra, ainda não fizemos a transição de épocas geológicas, do Holoceno para o Antropoceno. Hum hum (negação). Um rápido refresco na memória para quem ouviu o primeiro episódio sobre a divisão do tempo da Terra. Não ouviu? Volta uma casinha no jogo e comece do começo!
🎵 Som de volta fita 🎵
Adrielen: Em quase cinco bilhões de anos, o planeta já resfriou, aqueceu, congelou, inundou, uniu e separou continentes. O tempo dessas transformações foi dividido em éons, eras, períodos e épocas geológicas.
Bora se situar? Pode levantar a mão quem está no Éon Fanerozóico, da Era Cenozóica, do Período Quaternário! Levantou a mão? Sim!! Você está. Eu estou. Enfim, humanidade presente!
Adrielen: Em quase cinco bilhões de anos, o planeta já resfriou, aqueceu, congelou, inundou, uniu e separou continentes (efeito cadência). O tempo dessas transformações foi dividido em éons, eras, períodos e épocas geológicas. Bora se situar? Pode levantar a mão quem está no Éon Fanerozóico, da Era Cenozóica, do Período Quaternário! Levantou a mão? Sim. Você está. Eu estou. Enfim, humanidade presente! Sacou? Na escala do tempo geológico, ainda estamos no Período Quaternário, Época Holoceno, iniciada há quase 12 mil anos. Para a Geologia, o critério é rigoroso: a mudança de época só se dá a partir de um registro fóssil entre as camadas rochosas. A discussão foi e voltou durante mais de uma década, até que o carimbo ou batida de martelo veio em março de 2024: seguimos ‘’holocenos’’, ‘’holocenas’’, ‘’holocenes’’. Por 12 votos a 4, o Comitê da União Internacional de Ciências Geológicas não confirmou que migramos para o Antropoceno. 12 a 4, minha gente! Quem aí lembrou do 7 a 1? Praticamente, o fim do mundo! . Voltando ao assunto! Ouça a explicação da Adriana Alves, do Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo.
Adriana: Então, para todas as anteriores, a gente tem uma associação rochosa, distinta ou uma associação, fossilífera distinta, algo que marca aquele período como sendo único, diferente daquele que vem depois e diferente daquele que o precedeu. Do ponto de vista estritamente estratigráfico, o Antropoceno não existe. Porque se você tiver que ter uma associação já feita com um padrão muito distinto que você tem certeza que vai ficar registrado no livro geológico, como um horizonte ali que você, um geólogo daqui sei lá, 100 mil anos vai olhar e vai falar, olha o Antropoceno, é como se estivesse rodando filme para frente. Eu entendo do ponto de vista científico, eu entendo a não inclusão do Antropoceno como um período geológico distinto. Do ponto de vista político a gente perde. Seria uma chance de publicizar de uma maneira que é muito fácil de entender, estamos causando mudanças numa velocidade, e numa dramaticidade tão grande, que é impossível que isso não fique registrado na história da Terra, daqui para frente. Mas existe uma carta de critérios, que um determinado período tem que obedecer para que seja chamado, para que seja individualizado, como um estrato à parte na nossa carta do tempo geológico. E o Antropoceno ainda não gabaritou, digamos assim, os critérios. Eu acho que vai gabaritar e eu acho que vai mudar e não vai demorar muito.
Adrielen: Percebeu o tamanho desse B.O.? Para a Geologia, os elementos da nova época, também chamados os pregos de ouro ou golden spike, têm que estar impressos, visíveis. Ou seja, precisam estar sedimentados em escala planetária, representando uma marca na história do planeta. Quais seriam, então, os fósseis da nossa época? Na verdade, são também chamados de tecnofósseis, como o plástico e concreto, por exemplo. Mas, embora sejam encontrados em mares e solos, ainda não é o suficiente. Então, para que fique claro. Para a Geologia não mudamos de época geológica.
Dr. Cruz: Data venia (do latim, dada a permissão)! Há controvérsias, meritíssima!
Adrielen: Mas, como a ciência é ampla, distinta e complexa….
🎵Trilha 🎵
Dominichi Miranda: O que é importante, a gente entender, que os geólogos negaram, digamos, eles refutaram essa proposta do Antropoceno como uma nova época geológica, mas essa discussão ela continua em outros campos do conhecimento. A discussão é muito viva, né? Apesar dessa negativa dos geólogos. Então, em termos gerais para os nossos ouvintes, nossas e nossos ouvintes entenderem aí, só proposta de uma nova época geológica que ainda encontra muita resistência entre os geólogos, mas que tem muita vivacidade e muito interesse em outras disciplinas, que incluem as Ciências do Sistema Terra e as Ciências Humanas e Sociais também. Então esse debate, apesar da negativa dos geólogos, ele está muito vivo!
Adrielen: Em resumo, como explica a Dominichi Miranda, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz, essa história não para por aí. E ainda na vibe da nossa figura de linguagem rainha deste podcast, a metáfora: é vida que segue! É toca o baile! É pano pra manga! É bola rolando! (referência ao futebol).
🎵Trilha 🎵
Adrielen: Explicada a parte controversa do Antropoceno? Embora muito discutida na última década, a mudança de época não foi aceita pela Geologia. Mas, o termo Antropoceno ganhou vida própria e segue sendo referência quando o assunto é mudança climática e extinção de espécies. Além disso, vemos e sentimos na pele as revoluções ligeiras do clima. Quem mora em Brasília, há muitas décadas como eu, lembra como era desesperadamente frio o mês de julho, nos anos 80, 90. Hoje, usamos no máximo um casaqueto durante o inverno. E por aí, o que você tem percebido? Está mais quente? Mais frio? Como são os períodos de chuva e de estiagem?
🎵 Reportagens de acervo EBC 🎵
Adrielen: E como tudo começou? Homo sapiens está na Terra há milhares de anos, mas linhas de pesquisa defendem inícios diferentes da chamada “época humana”. Há as que apontam para o início da agricultura, há, pelo menos, 10 mil anos. Há também as que indicam a Revolução Industrial, iniciada no final do século 18, e a queima de combustíveis fósseis como as grandes detonadoras. E por falar nisso, as detonações nucleares na década de 50 também são aceitas como uma das alternativas para o início do Antropoceno.
André Felipe Cândido: Antropos, tem a ver com humanos porque a raiz desses distúrbios, dessas perturbações, desses mecanismos planetários, teria a ver com ações humanas de diversas ordens como intensificação da agricultura, intensificação da pesca, intensificação da própria atividade industrial, ou seja, uma série de atividades que nos últimos séculos, sobretudo, teria ocasionado essa perturbação desse sistema. Então, várias características na verdade poderiam ser atribuídas ao Antropoceno, por exemplo, a ocorrência de eventos climáticos extremos, não por acaso, as mudanças climáticas a gente pode considerar as mudanças climáticas como fenômeno mais visível e mais debatido do que ao Antropoceno, mas o Antropoceno, na verdade, é um conceito que ele delimita mudanças muito mais amplas do que as mudanças climáticas, porque o clima é só uma dimensão de funcionamento desse sistema mas um outro ponto importante do Antropoceno é, por exemplo, a chamada crise de perda da biodiversidade, ou seja, uma taxa extremamente acelerada de extinção de espécies que é algo que já ocorreu em outros momentos da história geológica do planeta, mas que agora estaria ocorrendo em uma taxa muito acelerada.
Adrielen: Tudo posto na fala de André Felipe Cândido, historiador e pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz. O que todas as linhas são unânimes em dizer é que tem dedo da espécie humana.
Dr. Cruz: Humm…Aí, está ela, a causadora: a espécie humana. Essa colônia, super populosa e com organização complexa. Não entende que se agride a Terra, mata a si mesma? Uma questão de tempo!
Terra: É impressão minha, ou essa pobre e populosa colônia de humanos se acha no direito de mandar em tudo? Acordem!! Que soberba!
🎵Trilhas 🎵
Thiago Regotto: “A queima desenfreada dos combustíveis fósseis, adicionada ao crescimento populacional e ao aumento da expectativa média de vida, e o consequente aumento da demanda por recursos como energia e alimentos, causou uma devastação ecológica de dimensões épicas……Na verdade, não é o homem que é o primário, mas a Terra. Como a sabedoria indígena de milênios intui muito bem, tudo o que fazemos e construímos depende da Terra e tudo que precisamos, vem dela. Se já não precisamos caçar e colher frutos para o nosso sustento, as atividades agropecuárias, a mineração e o extrato de combustíveis fósseis são atividades violentas, que cortam a Terra em pedaços, devoram florestas e poluem o ar e as águas. Por 10 mil anos essa tem sido nossa atitude com o mundo natural, tratá-lo como nossa propriedade, seus recursos como os nossos pertences, o seu uso nosso direito”.
Adrielen: Na voz de Thiago Regotto, se faz presente aqui no podcast o astrofísico Marcelo Gleiser, que integra este movimento mundial em defesa do planeta Terra. O trecho é do livro ‘’O Despertar do Universo Consciente – Um Manifesto para o Futuro da Humanidade’’, lançado em 2024.
🎵Trilhas🎵
Adrielen: Como conta a mitologia grega, é a hýbris, uma forma de soberba e arrogância que faz o ser humano ultrapassar todos os limites. A hýbris é quem provoca a fúria da natureza. Um ímpeto ambicioso que coloca em risco a harmonia da vida na Terra, de todas as inúmeras espécies, a harmonia do cosmo.
🎵Trilha🎵
Dr. Cruz: Terra! Como tem passado? Trago notícias. Ao que tudo indica, o que tem mesmo causado toda essa ‘’sorte’’ de mal estar é o Antropoceno.
Terra: Tem tratamento, Dr.?
Dr. Cruz: Tenho uma estratégia. Mas, antes preciso reunir a melhor equipe para salvá-la!
Terra: A cada minuto que passa, a sensação que tenho é que vou explodir…..
🎵Trilha🎵
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵
Adrielen: No terceiro episódio:
🎵 Trecho do terceiro episódio 🎵
Adrielen:: Um mergulho no esgotamento da Terra, passo a passo.
🎵Trilha🎵
Adrielen: Este é o S.O.S! Terra Chamando! O podcast sobre a saúde do planeta. Uma co-produção da Empresa Brasil de Comunicação e da Fundação Oswaldo Cruz. Eu sou Adrielen Alves, responsável pela idealização, roteiro e apresentação. A pesquisa e a produção são de Anita Lucchesi e Teresa Santos. A edição de conteúdo é da Julianne Gouveia. A revisão é da Ana Elisa Santana. A locução de trechos do livro do Marcelo Gleiser é do Thiago Regotto. Fazem parte da comissão técno-científica: Carlos Henrique Assunção Paiva e Dilene Raimundo do Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz; e Carlos Machado de Freitas da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, ambas unidades da Fundação Oswaldo Cruz. Os atores são Kailani Vinício e Pablo Aguilar. O apoio à produção ficou por conta de Adriana Ribeiro e Victor Ribeiro. A operação de áudio é de Álvaro Seixas, Thiago Coelho e Reynaldo Santos, Thales Santos e Reinaldo Shiro. A edição final e a sonoplastia são da Pipoca Sound. Este episódio usa áudios de André Felipe Cândido e Dominichi Miranda de Sá, da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz, além do acervo da Empresa Brasil de Comunicação. Até a próxima!
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵
🎵 Som de fita voltando 🎵
Beatriz Arcoverde: Também contribuíram na Coordenação de Processos, implementação e publicação nas plataformas: Equipe da Radioagência Nacional – EBC, Interpretação em Libras: Equipe de tradução da EBC, na edição de vídeo para o youtube: Mateus Araújo e o responsável pela arte: Vinícios Espangeiro.
🎵 Vinheta de Encerramento 🎵


